sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Samba

Esse conto também foi publicado entre os Minicontos Perversos, e está fazendo um pequeno sucesso entre os perversos leitores das maldades e safadezas que o Gustavo apresenta a todos. Então, depois que você ler essa história, dê uma passada por lá, mas volte aqui, ok? Não deixe o samba morrer.

A roda de samba teve fim. Dois paradoxos. O primeiro porque imaginamos que tudo que é redondo não termina. O segundo foi o próprio término do sambão. O churrasco do Aldemar tinha cerveja de sobra. A festa rolou ao som de muita música e carne, às vezes bem, às vezes mal passadas. Nem todo mundo foi embora sabendo o que fez o samba morrer. Ciúmes.

Aldemar amava Rosa, que por fim também amava Aldemar. Mas vinha sentindo uma mudança. Não sabia se o clima, se o vento invertera a direção ou se a música tocava diferente ultimamente. Só se sabia estranha. Algo em seu corpo parecia o rejeitar subitamente, o que só amenizava com algumas cervejas. Ah, como vinha bebendo ultimamente! Naquele dia, ali, no samba, ela percebeu-se olhando para um dos músicos.

Era um moreno alto, esbelto, de olhos verdes e penetrantes. Tão penetrantes que pareciam invadir a alma de Rosa num simples golpe de vista. De certa forma, aquele olhar reunia nela um misto de vergonha, de medo e de tesão, sensações que há muito não sentia nos olhos frios e autoritários de Aldemar. Aliás, de Aldemar, nos últimos tempos, só tem recebido olhares de indiferença.

Rosa já tinha bebido um pouco a mais e, mesmo sabendo que Aldemar estava por lá, resolveu se engraçar com aquele moreno que lhe provocava arrepios. Chegou no meio da roda e sambou como nunca mais tinha sambado pro Aldemar. Logo ela recebeu olhares do Jair, que já cantava com mais sensualidade. Jair largou o microfone, levantou e os dois pareciam estar completamente sozinhos na roda, se sentindo.

Aldemar estava feliz. Seu corpo pulsava ao ritmo do samba. Ele sorria olhando os amigos e aquela linda morena a quem amava, a seu jeito. Rosa estava especial aquele dia. A morena dançava como nunca, rodopiante e sensual. Excitava-o tê-la ao lado. Seu corpo, sorriso, suor, seu olhar. De repente percebeu que Rosa também sorria. Um sorriso apontado noutra direção. Na outra ponta do olhar da Rosa, Aldemar viu um Jair e um cavaquinho.

4 comentários:

  1. (...)" A roda da saia mulata
    Não quer mais rodar, não Senhor
    Não posso fazer serenata
    A roda de samba acabou..." (Chico Buarque)


    De certa forma, há um pouco de Chico no nosso conto... rsrs

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  2. "... Mas eis que chega a roda viva e carrega o destino pra lá...roda mundo roda gigante...o tempo rodou num instante nas voltas do meu coração"

    Combina mesmo, Caio!

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  3. HIstória muito interessante...

    Quanto mais o tempo passa melhor fica esse Blog...
    :P

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  4. Samba e ciúme não podem se separar! ^^
    Esse conto ficou muito bom, só que queria saber mais coisas do Jair com a Rosa. xD


    Boa tarde.

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