sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

No calor

Era uma tarde de verão como outra qualquer. O calor intenso derretia até os nossos pensamentos. E a volta para casa era cada vez mais tortuosa. O ônibus cheio e quente; o trânsito, estático. E o desespero... este era incontrolável. A vontade era de gritar, correr, desaparecer. Embora aquele fosse mais um dia de verão no Rio de Janeiro, havia um sentimento forte, que fazia com que eu reparasse em todas as coisas com um olhar diferente; um olhar desesperador.

Vivendo em uma long and winding road com um calor dos infernos, era assim que eu me sentia naquelas horas. O dia já não era tão importante, pois o calor tomava conta de tudo. Minha indecisão ia aumentando, criando uma névoa fechada. E a minha dúvida só diminuía quando eu ficava com raiva das pessoas em trajes de banho, enchendo os ônibus e as ruas de areia. A inveja só servia para que eu não enlouquecesse de vez com os meus pensamentos. Já em casa, de saco cheio da situação, apenas lavei o rosto e fui até lá resolver meus problemas.

Não sei se foi o calor, não sei se foi a angústia de ver a situação resolvida. Só sei que as coisas não podiam continuar do jeito que estavam. Peguei o telefone, com os dedos trêmulos e indecisos. Respirei fundo. O suor escorria livremente pelos meus poros. Disquei aquele número que eu já sabia de cor.
Ele atendeu:

- Oi, querida, tudo bem?
- Tudo. Preciso falar com você.
- Eita! Diz logo então, vai.
- Não posso mais continuar assim, não posso mais mentir, não posso manter nosso relacionamento.
- Por quê????
- Sou lésbica.
- Vai tomar um banho e esfriar a cabeça, amor.
- Já tomei.
- tu tu tu tu...

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