terça-feira, 7 de dezembro de 2010

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Clarissa era uma estudante do segundo ano do Ensino Médio. Durante as horas vagas, costumava ter os passatempos de qualquer adolescente normal, leia-se, principalmente, entrar na Internet. Ela participava de todas as redes sociais que se pode imaginar. De MSN a Twitter, passando pelo clássico Orkut até os mais recentes, como o Formspring. Entretanto, os pais de Clarissa começavam a se preocupar, achando que a jovem não sabia mais a diferença entre vida real e vida virtual.

A jovem costumava virar noites em frente ao computador, estava por dentro de todas as novidades virtuais e conversava com pessoas de diversas cidades espalhadas pelo país. Entre os seus amigos mais próximos estava o Gabriel, um roqueiro que morava em uma pequena cidade no interior do estado. O rapaz sempre dizia que um dia viajaria até a capital para conhecer a jovem internauta.

Mas Clarissa não ligava para a visita, pois tinha um namorado virtual, que a observava através da câmera. Ele podia vê-la e ela não, já que o rapaz não tinha câmera. A menina adorava se exibir e criou um vínculo tão forte que passava os dias pensando somente em voltar para a frente do olhar extático da webcam.

Os dias se passaram e as férias vieram. A pele de Clarissa perdeu a cor, os cabelos encresparam e o ar do quarto, mal limpo nos espaços que ela dava à mãe, se enchia do cheiro ocre de pele e suor. As palavras na tela eram dominadoras, cada vez mais submetiam Clarissa à sua vontade. Como um oráculo, o rapaz sabia o que a menina desejava e dominava seu desejo como um jogador de baralho controla as cartas antes de distribuí-las a seus pares.

Como ela não dava muita bola para as vontades dele, aos poucos, Gabriel foi diminuindo a quantidade de cantadas e de pedidos para conhecê-la pessoalmente. Ele raramente entrava na Internet. Seus momentos na Rede se chamavam Clarissa. 

A recusa da menina em conhecê-lo fez com que ele o que era uma vontade real se tornasse virtual. Um dia ela teria que vir, pensava ele. Assim, escondido cada vez mais atrás do monitor, o desejo de ver Clarissa pessoalmente deixou de ser uma coisa única, tornou-se binário. E, embora ela fosse o 1, ele era o 0.

O conto de hoje contou com a participação de Lara (@Lara_Utzig). Ela é estudante de Letras e tem um blog muito interessante. Clique aqui para dar uma olhada.

Além disso, no começo do texto, eu lembrei de um vídeo do meu outro blog. Cique aqui para assistir Voyeur On-line. 

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