quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Vestido de Baile

Tânia Mara era uma mulher solitária, trabalhava como assistente social em um presídio situado na zona Norte da cidade. A única companhia que tinha era a do seu cão de estimação. Com os vizinhos, trocava algumas poucas palavras, e desde que se tornou viúva, recusou-se a conhecer outro homem.

Toda quinta-feira, Tânia acordava às seis da manhã e levava seu labrador para dar um passeio na praça em frente a seu prédio. Vez ou outra, nessas saídas, ela encontrava um velho amigo de infância fazendo exercícios. Ambos conversavam durante alguns minutos sobre as principais notícias da semana; mas o assunto, no final, sempre voltava aos tempos do colégio.

Bons tempos esses, em que a inocência, a despreocupação, as ilusões e as paixões adolescentes prevaleciam. No entanto, nem tudo foi tão bom naquela fase. Muitas vezes, no encontro dela com seu amigo, o assunto chegava ao mesmo ponto: o misterioso assassinato de Julia, uma pessoa muito próxima que perdeu a vida misteriosa e tragicamente na festa de formatura do 2º grau.

O assunto nunca fora esclarecido. Depois de tanto tempo, a conversa dos dois ex-colegas de classe acabava tomando apenas um ar de nostalgia. Tânia tinha certa desconfiança, pois Julia era a garota mais conhecida da escola, e ganhou ainda mais notoriedade depois de morta. O crime, chocante para a época, havia sido apontado pela polícia como um homicídio praticado por pelo menos sete pessoas. Quando se lembrou das circunstâncias e da repercussão em relação ao ocorrido, Tânia preferiu mudar de assunto.

Ao chegar em casa e soltar o labrador, Tânia foi ao quarto e tirou a roupa. Em seguida, olhou vidrada para a porta do armário e abriu-a, buscando, no fundo de uma gaveta, uma velha caixa repleta de recortes de jornal da época da escola. Com os papéis sobre a cama, ela olhou-se no espelho de corpo no canto do quarto, visão perdida, e relembrou como as meninas de sua turma a consideravam feia, a desmereciam, e de como naquele dia teve que ir ao baile sozinha, pois os meninos se envergonhavam de ir com ela.

Tânia, então, nua ainda, pegou o vestido de baile que pertencera a Julia, já amarelado, segurou-o diante de si e bailou, feliz, como se fosse a mais bela garota da escola inteira, a mais desejada de todas, assim como a ex-dona.

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