segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Siamesas

Três meninas voltavam para casa a pé, ladeando o milharal no caminho da escola para casa. Eram jovens e cheias de vida. Naquela tarde quente de verão não pensavam em mais nada além de seus sonhos, de voar para muito além do vilarejo em que moravam.

Apesar de ser um caminho a que estavam acostumadas, as três sempre sentiam um certo medo ao passar pelo milharal. Por mais que pudessem facilmente se esconder na plantação, havia um pequeno receio compartilhado por elas todas as vezes em que vinham por aquele lugar sozinhas. Embora o medo fosse recente, era comum às três e só aumentava.

A vontade de partir durou muitos anos, até que as meninas se tornaram três lindas jovens e resolveram aprender uma profissão, após o que foram para a capital. Mal sabiam elas que seu temor tinha uma origem concreta.

Desde a infância, Miroslav, o filho do dono da fazenda por que passavam, as espreitava obcecado, por entre as palhas verdes do milho, de longe, dia após dia, sorrateiro.

O turco, como era conhecido, se alimentava da presença delas, apesar de sua rápida passagem, e do perfume que seus cachos louros espalhavam pelo ar. Nos sonhos reclusos, ele as embalava, róseas, juntas, tenras e sufocantemente belas. Para o jovem tímido, não bastava uma: desejava as três com o mesmo tórrido incêndio.

Nesse desejo, que era desconhecido pelas amigas, estava a razão do medo que sentiam ao cruzar o milharal. Ao deixarem a cidade e irem trabalhar em lugares diferentes, se tornaram vítimas mais fáceis, pensava o turco. Sua principal obsessão era pelos longos e louros cabelos das amigas.

Miroslav foi para cidade também e conseguiu um emprego em uma loja de tecidos de um parente armeno. Lá ele passou a seguir a cada dia uma das amigas e pode planejar com calma como manteria as três juntas e perto dele. Em uma mesma semana ele pôs seu plano em prática. As três foram pegas, segunda, terça e quarta, e localizadas depois em seu quarto, no fundo da loja do armeno, com os cabelos costurados. Siamesas, como o turco queria.

5 comentários:

  1. Costuradas... Nossa, me assusta esse final.

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  2. Magnífico, final totalmente inesperado!

    Um abraço!

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  3. Meninos,
    confesso que fiquei com medo desse turco tarado por loiras... hahahaha.
    Não gostaria de ficar costurada, não... hahahaha.
    Bjs!
    Grazi

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  4. Edgar Allan Poe ficaria orgulhoso dessa história.

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  5. Excelente história com um final excelente e assustador...
    Com certeza Edgar Allan Poe ficaria orgulhoso ao ler tal conto, pois com poucos paragrafos se conseguiu criar um conto digno e ai reside seu mérito.

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