terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Alice, acorda!

Esse conto é sobre uma menina que percebe as sutilezas de cada coisa que acontece a sua volta. Ela vive em um mundo onde passarinhos falam, as paredes escutam e os ventos trazem boas notícias. Mas, por ora, não tem batido nem um brisa.

A menina nunca vivia só. E mesmo que não houvesse ninguém no quarto, onde ela gostava de passar horas trancada, sempre havia alguém com quem conversar. O Sr. Abajur contava histórias de Paris. As canetas, fofoqueiras, falavam da vida alheia. Mas sua melhor amiga era a cama. Vez por outra, a mãe da menina passava e ouvia a voz solitária da menina, a conversar com o invisível, e achava que era coisa da idade. Mas quanto mais o tempo passava, o comportamento da menina não mudava. E a mãe começava a se preocupar.

Alice era bastante elogiada em tudo o que fazia. Ela dizia que o ingrediente principal para uma coisa dar certo era o amor. Ela amava, e como amava! Dona cama que o diga, passava horas e horas escutando as histórias de Alice agarrada ao Sr. Travesseiro, que no final das contas sempre acabava ensopado com as lágrimas de chocolate que escorriam de seus olhos. "Amo o que não existe", ela dizia. E isso preocupava muito sua mãe.

Médicos, psicólogos e até psiquiatras a menina visitou. Mas todos com a mesma resposta: "saudável e inteligente sua filha é, Dona Mariquinha. Não tem nada de errado com a moça. Sonhar faz parte e a imaginação é o maior dom que ela tem".

Mariquinha não acreditava muito em imaginação. Apesar de ser fruto de uma senhora muito imaginativa. Afinal, como alguém pode escolher tal nome para a própria filha sem muita criatividade? A preocupação exagerada, cada vez mais frequente em relação a filha, fez com que Mariquinha não percebesse certos sinais. Objetos domésticos eram os novos amigos da Alice. Não era só um abajur, nem uma cama, muito menos um travesseiro. Eram senhores e senhoras, com pompa e intimidade ao mesmo tempo.

Mesmo acreditando que tudo isso não passava de mera ficção criada pela filha, Mariquinha não estava aguentando a pressão de toda essa imaginação. Muitas vezes, não sabia o limite entre o que era real e o que era ficcional. Por outro lado, Alice, presa em sua imaginação, também passava pelo mesmo dilema. Se tudo aquilo que ela havia criado não poderia ser considerado real, afinal, o que poderia? E se não poderia viver a sua realidade, qual seria a razão para viver?

Alice confessou sua angustia à mãe, que, por sua vez, também confessou o que sentia em relação aos passarinhos falantes e objetos dançantes. Então, como saída para os seus problemas, Alice e Mariquinha resolveram viajar. Viajar para o eterno. Esse é um conto que não é de fadas, que não é real, mas fala de uma parte da história que ninguém nunca contou: o dia em que Alice morreu.


O conto de hoje teve a participação da Amanda (@). Ela é assídua no twitter e divide um blog com a Lara Spinoza (@laarices), nossa colega de contos.



3 comentários:

  1. Eu uma Palavra: Excelente
    Em duas Palavras: Extremamente Excelentre

    O Melhor conto do Blog até agora...

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  2. *-*
    Sinto-me lisonjeada por ter feito parte dela.

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  3. =) Já havia lindo no blog da @Lara_Utzig !
    E realmente o conto está excelente.

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